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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Confira a trilha sonora de Ken Parker
— Ken Parker "A Dois Passos do Paraíso" (Vecchi /Tendência). Argumento/Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Giorgio Trevisan. Publicada originalmente no Brasil em Abril de 1982/Editora Vecchi
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Arte: Giorgio Trevisan |
Ken Parker está em Nogales, no México. E lá, para nossa surpresa, somos surpreendidos por um Ken falastrão, rude e encrenqueiro. Sem uma causa aparentemente justificável, o scout briga com o proprietário de uma cantina e acaba por ser encarcerado. Assim, Ken Parker divide sua cela com Paul Sherwood, um jovem que prestou serviço como domador de cavalos para Lopes Cardona, um importante fazendeiro da região. Desse modo se envolve com Juanita, filha de Cardona, e acaba preso, acusado injustamente de roubo. Na verdade, Paul Sherwood é Harry Fox, filho de Dashiell Fox, grande amigo de Ken Parker, que ao ouvir os lamentos do velho companheiro, resolve ir até o México, encontrá-lo e trazê-lo de volta ao convívio de sua família.
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Arte: Giorgio Trevisan |
Entre tantas interessantes abordados em Ken Parker, essa é a primeira vez em que o tema das drogas surge diretamente e envolve um personagem importante num roteiro de Giancarlo Berardi. Paul/Harry oferece ópio para Ken enquanto estão presos (página 23, tomando por base a edição da Editora Vecchi). Harry defende que o ópio empresta uma espécie de "poder de levar bem alto, para o céu, a dois passos do paraíso". Típico rebelde sem causa, o filho de Dash se declara um típico covarde e confesso fracassado. Contudo, é galanteador, inconsequente, trapaceiro no pôquer e o mais grave — é procurado por matar um homem em Tucson. Ao fugirem da prisão mexicana, a dupla segue até a fronteira, quando — novamente somos surpreendidos, pois Ken Parker revela ao garoto sua real missão. A forma como Harry novamente se afasta de Juanita demonstra a incapacidade de manter um relacionamento convencional, amplificando soluções indigestas e sujeitas a más interpretações.
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Arte: Giorgio Trevisan |
A discussão da paternidade é uma das pautas de debate entre Ken Parker e Harry Fox, que lamenta a ausência de seu pai durante grande parte de sua infância/adolescência — uma queixa que certamente promove reflexões no próprio Ken, que de certa forma reproduz algo parecido com seu filho, Tebah/Teddy. Esse paradoxo entre necessária ausência devido a itinerância do trabalho de um scout, frente aos deveres e obrigações como pai, deflagram a intenção de Dash de também resgatar — mesmo que tardiamente — a confiança e o respeito do filho. E Ken está disposto a fazer essa ligação entre pai e filho.
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Arte: Giorgio Trevisan |
Aos poucos, Harry revela sua versão dos fatos — da conturbada relação com o pai e a família, ao fatídico episódio da morte de um oponente num jogo de cartas em Tucson e a falta de perspectivas de um jovem adulto — o filho de Dash abre o coração e ouve — mesmo às vezes contra a vontade — os contrapontos de Ken Parker, e aos poucos o garoto parece encontrar uma lúcida percepção do seu destino —.próximo à redenção. No comando artístico das imagens, Giorgio Trevisan apresenta grandes momentos em "A Dois Passos do Paraíso" — narrativas visuais ausentes de diálogos; o recordatório do romance entre Harry e Juanita busca o tom fabulário de um filme dos anos 1950; as imagens noturnas do imaginário mexicano com seus cactos e pueblos.
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Arte: Giorgio Trevisan |
Quando reeditado no Brasil em agosto de 2005, "Há Dois Passos do Paraíso" corrigiu uma histórica inversão que ocorreu quando KP foi publicado no Brasil pela Vecchi em abril de 1982: os números 43 (Há Dois passos do Paraíso) e 44 (Na Estrada Para Yuma) do original italiano saíram invertidos aqui, provavelmente por algum atraso na tradução ou no envio do material da Itália. Outra diferença é que as capas das duas edições, na época de seu primeiro lançamento aqui, saíram com uma cor na parte de cima dos desenhos (o que também ocorreu em outros episódios) , o que desagradou muito Ivo Milazzo, por causa da quebra do padrão gráfico que valoriza o branco em suas artes.
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Arte: Giorgio Trevisan |
Há uma curiosidade envolvendo "A Dois Passos do Paraíso" e a canção homônima da Blitz, um dos grandes sucessos do rock nacional ainda na primeira metade dos anos 1980. A quinta faixa do Lado A de "Radiotividade", álbum lançado em 6 de julho de 1983 (mais de um ano depois do episódio da HQ chegar às bancas brasileiras, via Editora Vecchi), teve sua faísca inicial inspirada após o vocalista/compositor Evandro Mesquita ler o episódio de Ken Parker. A ligação foi recentemente revelada em "Blitz - o Filme", documentário lançado no primeiro trimestre de 2020. Com isso, Rifle Comprido tornou-se uma das inspirações de um dos grandes hits da história do rock nacional. Não é incrível?
Próximo episódio: "A Estrada para Yuma".
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Arte: Giorgio Trevisan |
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