quinta-feira, 30 de julho de 2020

KP#15 Homens, Feras e Heróis/Homens, Animais e Heróis

Arte: Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.


Review — Ken Parker "Homens, Feras e Heróis (Vecchi)/ Homens, Animais e Heróis" (Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em Janeiro de 1980/Editora Vecchi

Arte: Ivo Milazzo
“Homens, Feras e Heróis”, como lançado pela Editora Vecchi em janeiro de 1980, ou “Homens, Animais e Heróis”, conforme seu relançamento pela Tendência, é um fechamento de ciclo, o final da jornada de Ken Parker e Pat O'Shane. Toda a sequência inicial no Heroe's Street Saloon, em Dodge City, Kansas, na procura de Ken por profissionais que possam auxiliá-lo a levar quinhentas cabeças de gado até o Rancho P.O, em Sioux Falls, no Dakota do Sul, confabula um dos grandes momentos do episódio. O recrutamento não logra êxito, mas rende uma das mais emocionantes homenagens de Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo a uma série de personagens e importantes nomes ligados ao western nas HQs. 

Arte: Ivo Milazzo
Como um quebra-cabeças, ou charada literária — a láurea repassa nomes como Cisco Kid, Pancho, Pecos Bill, Sargento Kirk, Rocky Rider, Red Dust, Cocco Bill, Rick O'Shay, Larry Yuma, Pequeno Ranger, Capitão Miki, Pequeno Xerife, Matt Dillon, Bill Adams, Blueberry, Zagor, entre outros. Destaque para a ‘participação especial’ de Tex Willer e seus pards — Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre. Os editores da Editora Bonelli —  Sergio Bonelli e Decio Canzio, também merecem menção, além dos próprios Berardi e Milazzo. Essa homenagem segue até a página 35, quando um caubói, montado em seu cavalo, canta “I'm a Poor, Lonesome Cowboy", um dos números favoritos de Lucky Luke, herói franco-belga dos quadrinhos. Ken Parker indica o caminho do cemitério ao desconhecido — "Puxa, que cara triste", diz Pat O'Shane. A tristeza do cavaleiro é uma homenagem a René Goscinny, seu co-criador, recentemente falecido na época da publicação na Itália. 

Arte: Ivo Milazzo
No final das contas, com reprovação inicial (e logo após com o aval de Ken), é Pat que seleciona o grupo para a missão. São eles —  Jerry ‘Papai’ Oliver, George Abrahan Lincoln e Nathan Barret, além do veterano Irving Lockard, que se junta à trupe logo depois. Nas páginas 66, 73, 86 e 94 (tomando por base a edição da Editora Vecchi), Milazzo arrisca um recurso muito utilizado nos antigos filmes de faroeste —   ilustrações sobrepostas a mapas que indicam o atual status do percurso. Outro momento glorioso está no diário da rotina do grupo resumido com primazia na página 45 — sem uma única legenda, o desenhista ilustra os afazeres do bando na estrada.  

Arte: Ivo Milazzo
Homens, Feras e Heróis/Homens, Animais e Heróis” também toca na chaga do preconceito, tema deflagrado na figura de George, um jovem negro, que apenas pela cor de sua pele, é inicialmente subjulgado por Pat. As ofensas racistas da jovem certamente são advindas pela herança de sua criação e da própria sociedade preconceituosa em que esteve inserida até então. De todo o modo, Pat O’Shane se autorregenera logo adiante na marcha, resultado de seu amadurecimento e do contato próximo com o carismático George. A mácula do rascimo será tema de debate em episódios seguintes do personagem, com aprofundamentos que serão devidamente rebatidos por aqui, no Ken Parker Blog.      

Arte: Ivo Milazzo
Uma curiosidade sobre Dodge City, cidade de onde partiu a jornada de Pat e Ken. Antes de fazer história como ponto de partida para criadores de galo naquela segunda metade do Século XIX, com suas manadas enviadas de trem rumo ao Leste, a cidade construiu sua riqueza como depósito de pele de bisão. Entre 1872 e 1874, ou seja, em apenas três anos, algo em torno de 3,7 milhões de bisões foram abatidos, sendo que destes, apenas 150 mil foram objeto de consumo pelos povos indígenas. O embate entre o grupo e os índios no decorrer da jornada ganha ainda mais significado com esse retrospecto. 

Arte: Ivo Milazzo
Com autêntico líder, Ken revela irrefutáveis qualidades e precisos entendimentos sobre seus comandados. À exemplo, lembramos de sua coerência em acreditar na remissão de Lockard, quando todos conhecemos sua verdadeira identidade; ou na simples compreensão em lidar com a epilepsia de Oliver — atributos que geram confiança no homem que guia o grupamento. Inclua as últimas quatro páginas de “Homens, Feras e Heróis/Homens, Animais e Heróis“ entre as mais emocionantes da jornada de Ken Parker — não só as lágrimas de Pat O’Shane escorrem rosto abaixo.   

Arte: Ivo Milazzo
Giancarlo Berardi já declarou em entrevistas suas visões no western não apenas em filme de aventura por excelência,  mas principalmente como instrumento ficcional para revelar nossa realidade — essa máxima pode ser aplicada com rara perfeição em “Homens, Feras e Heróis/Homens, Animais e Heróis”, basta olharmos para suas temáticas e personagens. Cumprida a missão, a partir de agora, por um bom tempo, Ken Parker será um cavaleiro solitário. As histórias não terão mais sequências de 3 ou 4 episódios. É o que veremos já no capítulo seguinte.

Próximo episódio: Butch, o Implacável.  

Arte: Ivo Milazzo

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