sexta-feira, 30 de outubro de 2020

KP #49 Sangue Vermelho

Arte: Ivo Milazzo

A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog

Confira a trilha sonora de Ken Parker

— Ken Parker "Sangue Vermelho" (Vecchi /Tendência). Argumento: Giancarlo Berardi / Roteiro: Maurizio Mantero — Desenhos: Sergio Tarquinio. Publicada originalmente no Brasil em Novembro de 1982/Editora Vecchi 

Arte: Sergio Tarquinio

Em Rocky Ford, no Colorado, uma pequena cidade às margens do Arkansas, em troca de uma carona, Ken Parker oferece sua  mão de obra para ajudar a carregar uma carga desconhecida a bordo de uma pequena embarcação rumo a Forte Wingate. O solitário ex-scout do exército tenta não cruzar o território por terra, isso devido o efervescente rumor de movimentação de índios hostis naquela região. O que ele não sabia, mas suspeitava, era do importante teor do conteúdo secreto que fora embarcado   110 rifles Winchester, além de 500 cartuchos, material bélico destinado a Forte Wingate.

Arte: Sergio Tarquinio

Ainda no início da jornada, na página 11 (tomando por base a edição da Editora Vecchi), Ken Parker diz ao capitão que gosta de passar o tempo livre lendo — "Este é meu problema. Em qualquer lugar, sinto-me deslocado", afirma o tripulante, que também declara acreditar que não bastam alguns livros para transformar um montanhês num literato. De todo o modo, o bordão de Ken é totalmente ajustado ao ideário de Henry D. Thereau (1817-1862), um discípulo de Ralph Waldo Emerson (1803-1882), que, na condição de estrangeiro social em qualquer circunstância, pregava o individualismo como conceito político, moral e social, uma afirmação da liberdade do indivíduo frente a um grupo, à sociedade ou ao Estado. Ken se ajusta perfeitamente a esse perfil. Tomado por um sentimento de não pertencimento a vida docente como professor universitário em Boston, Thoreau decide viver  isolado por alguns meses em uma cabana do Lago Walden (1845-46). De todo o modo, Henry David Thoreau retornou ao convívio da sociedade. Sua experiência está escrita em "Walden", um livro/diário publicado em 1854. Esse encontro entre Thoreau e Ken nos é lembrado por Marcos Faermann no prefácio de "Os Cervos/Um Hálito de Gelo" (1994), Editora Ensaio — "A palavra escrita é a relíquia por excelência". Contudo, podemos afirmar que a bolsa de livros ofertada a Ken pela jornalista Barbara Huntington Scott continua afluindo e afirmando a personalidade do nosso herói. 

Leia o review de Milady KP# 33   

Arte: Sergio Tarquinio

Ademais, não há mais espaços para reflexões filosóficas para Ken Parker em "Sangue Vermelho". Após embarcar de carona na pequena embarcação que se desloca pelo Rio Arkansas, os tripulantes são surpreendidos por um grupo de bandidos uniformizados com roupas do exército. A carga é roubada e  Ken perde sua bolsa (ah, bolsa de livros!), além da quantia arrecada pela venda de cavalos selvagens (relembre AQUI o episódio #48, Raça Selvagem). Ken Parker é encontrado desacordado por autênticos soldados e resolve investigar quem são os criminosos responsáveis pelo roubo. Assim, incógnito, como um simples cavaleiro, ele chega até Lamar, no Condado de Johnson. Lá, durante um jogo de pôquer no Saloon da cidade, salva a pele de Tony Brise, um capanga do bando de Helmer Cohen, verdadeiro articulador do furto de armas no Rio Arkansas. Assim, Ken Parker se infiltra no bando de Cohen e passa a ser informante da União. Entre seus poucos ajudantes está uma corista que trabalha no Saloon de Lamar.

Arte: Sergio Tarquinio


Ken atua como perfeito agente investigativo, onde cada minúcia, em detalhes ínfimos, ele aos poucos acaba por desvendar os mistérios do episódio, além de nos revelar a grande surpresa final. Na parte ilustrativa, novo retorno do contestado Sergio Tarquinio, provavelmente o menos amado dos desenhistas que trabalharam em KP. Contudo, é fantástica a cena ao qual Ken recobra a consciência (página 19), quando Tarquinio usa uma ilustração tremida para simular a consternação do protagonista. 14 das 115 páginas não possuem diálogo algum, além de inúmeros quadros onde apenas os desenhos constroem o entendimento visual da trama. E Sergio Tarquinio nos convence de suas virtudes  — como podemos constatar nas páginas 16, 17, 67, 110, entre outras. Apesar de seus inúmeros deflatores, vale lembrar que segundo muitos, os mais belos cavalos são materializados por ele.   

Arte: Sergio Tarquinio

Quanto a trilha-sonora de "Sangue Vermelho", na página 41 os capangas de Helmer Cohen retornam ao covil dos bandidos cantando "Little Brow Jug", uma toada que se tornou popular na segundo metade dos anos 1800. Já na página 83, com o bando de volta à cidade, quatro bailarinas coreografam e cantam ao som de um piano e banjo "Old Rosen the Beau", outra pérola daquele período. 

Próximo episódio: "Histórias de Soldados"           

       

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