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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Confira a trilha sonora de Ken Parker
— Ken Parker "Os Garotos de Donovan". Argumento: Giancarlo Berardi / Roteiro: Maurizio Mantero — Desenhos: Carlo Ambrosini. Publicada originalmente pela Editora Tapejara em Janeiro de 2007.
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Arte: Carlo Ambrosini |
Depois do incidente em Boston, quando ao proteger uma criança durante uma greve/protesto de trabalhadores de um indústria têxtil, Ken Parker mata o policial civil James O'Grady, o ex-investigador da Agência National passa a ser procurado pelo suposto crime. E nessa rota de fuga ele encontra "Os Garotos de Donovan", a qual é gravemente ferido por um tiro de arma de fogo, ele é acobertado pelo bando no subsolo de um sobrado em ruínas. O ex-chefe de Ken, Alec Browne, oferece uma recompensa de U$S 1mil (depois ampliada para U$S 2 mil) por informações que levem a polícia local até o seu esconderijo.
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Arte: Carlo Ambrosini |
O pequeno bando de delinquentes comandado por Donovan O'Hara, 15 anos, conta ainda com alguns órfãos e jovens de famílias pobres do subúrbio de Boston, entre eles estão — Mikis, Jerzy, Lars, Andy, Julian e apenas uma menina, Diana, que integralmente se dedica a cuidar do fugitivo ferido. Mario Molinari, que trabalhou como enfermeiro num reformatório, é incumbido de extrair o projétil alojado próximo à coluna cervical de Ken Parker, e assim é aceito no bando de Donovan.
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Arte: Carlo Ambrosini |
"Os Garotos de Donovan" nos joga dentro da desolação da periferia de Boston — a pobreza que prolifera à margem da urbe; a falta de perspectivas dos imigrantes; violência infantil; exploração à classe trabalhadora; além de cenários que nos levam à lembrança de "The Grapes of Wrath/As Vinhas da Ira" (1939), de John Steinbeck, que apenas poucos meses depois, em 1940, foi adaptado por John Ford para o cinema. Ambientado durante a época da Grande Depressão (década de 1930), o livro/filme ainda é amplamente discutido e celebrado como um dos grandes romances americanos do Século XX, com parte da crítica acusando o escritor de realizar uma propaganda velada ao socialismo. "Os Garotos de Donovan" ocorre cerca de 50 anos antes desse espectro de tempo, em 1879, e assim como em "Greve", novamente Giancarlo Berardi nos leva sem escalas numa indigesta viagem ao lado obscuro da sociedade bostoniana. Nada pode ser mais "Vinhas da Ira" do que o último quadro desenhado por Carolo Ambrosini na página 30 (tomando por base a edição da Editora Tapejara), assim como a sequência na página 31 — retratos da absoluta pobreza em que estão inseridos os personagens. Outra memória evocada pelo roteirista está em "Oliver Twist" (1837), romance do escritor inglês Charles Dickens, fenômeno da delinquência provocada pelas condições precárias da sociedade britânica na primeira metade do Século IXI, primeiro romance inglês protagonizado por uma criança.
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Arte: Carlo Ambrosini |
Um dos principais dramas expostos em "Os Garotos de Donovan" está representado na figura de Leszec Kovalsky, o pai de Mikis, trabalhador que busca reparo trabalhista, ao solicitar uma pensão vitalícia após perder uma de suas mãos. A empresa, representada por um advogado da metalúrgica onde trabalha, propõe um acordo com pagamento de ínfimos U$S 50 de indenização. A questão vai aos tribunais, quando percebemos novamente que a justiça nem sempre está de plantão nas histórias da saga Ken Parker, reflexo e reprodução de um microcosmo da vida real.
"Os Garotos de Donovan" ainda expõe a humanidade, o altruísmo e a dignidade do grupo de trombadinhas, jovens em situações de rua que muitas vezes são estigmatizados pela sociedade, mas se mostram incorruptíveis e importantes aliados na recuperação de Ken.
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Arte: Carlo Ambrosini |
Uma curiosidade: após duas interrupções da série original da publicação aqui no Brasil — a primeira em 1983 (Editora Vecchi). e a segunda em 1990 (Editora Best News), mais de 20 anos depois, finalmente a 'primeira temporada' da epopeia iniciada em 1978 é concluída no país. Um tempo longo demais, marcado por confusões editoriais — interminável teste de fogo para os pacientes fãs de Ken Parker.
Próximo episódio a ser debatido no grupo: "Um Príncipe para Norma"
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Arte: Carlo Ambrosini |
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