segunda-feira, 27 de julho de 2020

KP#12 A Balada de Pat O'Shane

Arte: Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.



Review — Ken Parker "A Balada de Pat O'Shane" (Editora Vechi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em Outubro de 1979/Editora Vecchi 
Arte: Ivo Milazzo
De volta aos Estados Unidos após longa temporada entre os eskimós, logo ao chegar em uma pequena cidade de Deerlane, no Alaska, Ken Parker se envolve em uma confusão com Jolu e Enja, que de imediato retornam para seu povo. Ken é equivocadamente reconhecido por testemunhas e confundido com um bandido chamado James W. Latimer, acusado de cumplicidade no assassinato de um homem. Condenado sem provas concretas, numa jogada ensaiada e desonesta do juri local (Kangaroo Court é um termo em inglês que denota essa espécie de audiência fraudulenta), Ken Parker será enforcado em praça pública.

Arte: Ivo Milazzo
Coincidentemente, no mesmo dia do julgamento, Lucas, irmão da jovem Pat O'Shane, é assassinado durante um jogo de poker no saloon da cidade. Eis então que essa menina de apenas 14 anos idealiza um plano para vingar a morte do irmão, e com isso resolve recorrer a ajuda do prisioneiro encarcerrado na delegacia de Deerlane. Destarte, no encalço de Lenny Roscoe, o assassino de Lucas O'Shane, a dupla inusitada cruza a fronteira e avança Canadá adentro. É quando encontram Hank, um patrulheiro (?!) da Polícia Montada canadense que os auxiliára nessa jornada por justiça pelo Sul das Terras da Rainha.

No intuito de poupar o leitor de elementos recordativos, e numa autêntica jogada de mestres,  já na parte interna da capa de "A Balada de Pat O'Shane" (tomando por base a edição da Editora Vecchi) Giancarlo Berardi utiliza a letra da música homônima ao título do episódio — pautada com as notas musicais e originalmente composta pelo próprio roteirista (ouça AQUI). Novamente o elemento feminino ganha protagonismo na jornada de Ken Parker, pois é chegada a hora de conhecermos Patricia O’Shane — “Pat. Que não é diminutivo de Patrick, mas de Patricia. Eu eu gosto assim”, como ela espontaneamente se apresenta.

Arte: Ivo Milazzo
Ao chegarmos em “A Balada de Pat O’Shane", os leitores mais atentos poderão perceber que os álbuns geralmente não são autoconclusivos, pois muitas vezes há uma deixa ou finais em aberto que nos forjam expectativas até o número seguinte. Dessa forma, a condução descritiva dos realizadores regularmente busca o espectro de três ou quatro edições para concluir a curvatura da história. Isso era algo incomum à época. A começar pela narrativa, que ao invés de usar a tradicional linha quadrinística, Beradi/Milazzo preferem cinzelar suas visões artísticas através da claquete cinematográfica. Assim o show acontece...

Falando em cinema, um dos modelos para a Pat O'Shane é a atriz Hayley Mills, de Pollyanna (1960), de  David Swift, longa adaptado do livro de Eleanor Porter. Impossível não lembramos também de Kim Darby em “Bravura indômita” (1969), de Henry Hathaway, com John Wayne, além da refilmagem dos Irmãos Cohen, de 2010, com Jeff Bridges e a ótima Hailee Steinfeld. Ainda não podemos esquecer da prodigiosa Tatum O'Neil em “Lua de Papel” (1973), de Peter Bogdanovich, um roadie movie encantador que lançou a jovem atriz ao mundo. Pat parece incorporar todas essas personagens femininas, jovens mulheres buscando seu espaço no mundo.

Arte: Ivo Milazzo
Ao irem se conhecendo, Ken Parker e Pat O'Shane acabam por construir uma relação afetuosa, ao estilo pai e filha, com nosso herói lentamente preenchendo a carência afetiva da garotinha sardenta. Pat O'Shane constrói uma série de parolas fantasiosas para arguir seus pontos de vista, espécie de autodefesa para fugir dos reais problemas que beliscam seus calcanhares. E absorvida no olho do furacão de uma realidade violenta e desigual, a garota utiliza de vários subterfúgios para validar sua presença numa realidade masculinizada, entre eles a sinceridade absoluta e ausência de papas na língua. Até então praticamente solitária, sem os pais, e com um irmão recentemente assassinado, aos poucos assistiremos o amadurecimento de Pat O'Shane. Isso não significa que ficaremos isentos de presenciar suas atitudes de menina mimada ou usuais traquinagens e confrontos com Ken Parker. E um dos grandes molhos do recheio que saboreamos em "A Balada de Pat O'Shane" é justamente a química entre Pat e Ken, uma dobradinha que irá nos encantar ainda mais nos capítulos seguintes.

Próxima episódio: Assalto em Canyon City/Cidade Quente

Arte: Ivo Milazzo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A saga de Rifle Comprido contada pelo Blog

Ken Parker Blog retorna à atividade