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Arte: Ivo Milazzo |
Review — Ken Parker "Butch, o Impacável (Vecchi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Bruno Marrafa. Publicada originalmente no Brasil em Fevereiro de 1980/Editora Vecchi
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Arte: Bruno Marrafa |
Após despedir-se de Pat O’Shane em Sioux Falls, Dakota do Sul, Ken Parker é recontratado como scout para uma expedição militar geológica nas Montanhas Rochosas. A caminho de Albuquerque, perde seu cavalo na estrada entre El Paso e Socorro, no Novo México. Lá é resgatado por uma diligência, e assim conhece a médica Lena Kaltz (ela é a cara da Katherine Ross, em "Butch Cassidy"), seu pai e o Tenente Robson. Adiante, Ken e o Tenente salvam um homem desconhecido atacado por comanches. Trata-se de Butch Logan, um inescrupuloso caçador de escalpos criado entre índios.
Os escalpos, um valioso triunfo de péssimo gosto, consistia numa técnica precisa de arrancar à faca a parte superior do couro cabeludo de um inimigo morto em combate. O espalpelamento foi inventado pelos franceses e ingleses que ofereciam um prêmio para cada indígena morto, no intuito de exigir uma prova corporal de que esse índio tinha sido realmente eliminado. Em época tardia, começou a ser adotado inclusive pela resistência indígena. Teoricamente, essa era a principal atividade de Butch Logan — vender escalpos indígenas para os mexicanos. Como não odiá-lo?
Os escalpos, um valioso triunfo de péssimo gosto, consistia numa técnica precisa de arrancar à faca a parte superior do couro cabeludo de um inimigo morto em combate. O espalpelamento foi inventado pelos franceses e ingleses que ofereciam um prêmio para cada indígena morto, no intuito de exigir uma prova corporal de que esse índio tinha sido realmente eliminado. Em época tardia, começou a ser adotado inclusive pela resistência indígena. Teoricamente, essa era a principal atividade de Butch Logan — vender escalpos indígenas para os mexicanos. Como não odiá-lo?
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Arte: Bruno Marrafa |
Os julgamentos pessoais nem sempre conseguem elucidar os autênticos reflexos da vida de cada um. “Julga-te a ti mesmo”, nos provoca o versículo bíblico. Essa é uma das pertinentes reflexões exploradas em “Butch, o Implacável”, episódio onde a linha tênue entre bem e o mal novamente demonstra sua incrível fragilidade. Após os grandes planos ao estilo dos clássicos de aventura e do clima “censura livre” no episódio anterior, encontramos agora uma lupa que amplia um dos mais violentos e sanguinários universos da saga de Ken Parker até aqui. Da cena inicial, no massacre de um pequeno e inofensivo grupo de índios — onde nem mulheres, idosos, homens doentes e crianças são poupados, ao extermínio de uma família no posto avançado comanche, quando até um bebê de colo é assassinado, o leitor se depara com um cruel e explícito banho de sangue. Louvores para o cuidado de Beradi/Marrafa em muitas vezes sugerir ao invés de mostrar cada uma dessas cenas horrorosas. Contudo, a imaginação percorre por territórios além do que é desenhado em cada quadro. Se fosse um filme, “Butch, o Implacável” receberia a tarja preta de ‘censura 18 anos’.
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Arte: Bruno Marrafa |
Ken Parker e Butch Logan são dois homens brancos que viveram entre os índios, mas certamente tiveram experiências e diferentes convívios. O confronto do pensamento de cada um é exposto como um constante debate entre a personalidade e as vivências de ambos. Também refletimos sobre a realidade maculada por sugestivas aparências — uma dama da sociedade, médica, questionadora da ditadura masculina, seria alguém que não levantaria suspeitas sobre sua índole? Mas, o selvagem, o impiedoso assassino, um caçador de escalpos, não nos dá outra opção a não ser apontar o dedo contra esse delinquente em óbvia acusação. Dessa maneira, levamos um cruzado no estômago ao confiarmos apenas nas simples aparências, pois além das sombras, as nuanças iluminadas por algum tipo de lucidez também estão entre as peculiaridades de “Butch, o Implacável”.
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Arte: Bruno Marrafa |
Os instantes finais perpassam pelas referências do western clássico — o toque do clarim, a chegada da cavalaria e os homens brancos novamente sendo salvos pelos mocinhos. Lembre-se — assim como o simples julgamento das aparências nos induz a conclusões precipitadas, as histórias de Giancarlo Berardi não nos fornecem apenas respostas, mas principalmente levantam as velhas perguntas que nunca são respondidas. Na última página, Bruno Marrfa expõe outro velho clichê do faroeste — o verdadeiro herói cumpre sua promessa em respeito ao oponente — Ken, uma pá e um corpo a ser enterrado.
Próximo episódio: A Longa Pista Vermelha
Próximo episódio: A Longa Pista Vermelha
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Artes: Bruno Marrafa |
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