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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Review — Ken Parker "O Caso de Oliveira Price (Vecchi /Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi / Alfredo Castelli — Desenhos: Giancarlo Alessandrini. Publicada originalmente no Brasil em Fevereiro de 1981/Editora Vecchi
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
Abril de 1876, Oliver Price larga a faculdade de advocacia e se alista no exército. O jovem é designado para prestar serviço em Forte Benton, no Montana. Essa coincidência o leva até seu pai, o Coronel Price, comandante da guarnição, e totalmente contrário ao alistamento militar. Hostilizado pelos soldados, pelo fato de ser filho do Coronel, Oliver acaba sendo responsabilizado pelo roubo de uma importante carga de armamentos, numa ação dos Cheyennes. Contudo, disposto a buscar redenção, com a ajuda de
Ken Parker, Oliver Price resolve encontrar o grupo de índios e assim recuperar o carregamento de armas.
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
O tema central de
“O Caso de Oliver Price” perpassa a relação entre pai e filho, num roteiro que explora contradições, expectativas, subversões e diversas resiliências desse vínculo. Na trama central — eis o filho nascido em berço esplêndido que de algum modo refuta as escolhas paternas para sua vida e, ao aparentemente optar o caminho mais difícil, encontra a oposição familiar na sua predileção pela carreira militar. É perceptível a constante busca de Oliver pela aprovação, uma investida contínua de revelar ao pai a capacidade de caminhar pelas próprias pernas e através de suas escolhas.
Ken Parker é uma espécie de ‘voz da razão’, um intérprete e consigliere dos Price. Giancarlo Berardi ainda apura suas críticas ao rigor militar em apenas reproduzir o indivíduo dentro da linha de montagem que faz um soldado, onde na maior parte das vezes não há brechas para reflexões ou debates.
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
Nas conversas com o Coronel Price,
Ken Parker revela oposição a vários mandamentos do comandante, assim como intimamente confirmamos sua intenção de deixar o trabalho como civil no exército. Ken está exausto com a retórica militar, além de não mais conseguir ficar impassível frente à constante violação do homem branco aos costumes das tribos indígenas. Essa aversão à hipocrisia prenuncia no leitor que o personagem está próximo do seu limite, indicação de novos rumos para a sequência da jornada de KP.
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
A conhecida ingenuidade de Ken novamente é posta à prova, quando prontamente aceita participar do plano de resgate de Oliver, primeiramente o elogiando pela estratégia, para logo depois apontar os riscos e o perigo da ação. Por outro lado, pela primeira vez, através da voz interior de
Ken Parker, conhecemos as particularidades do ofício de um scout/explorador civil (páginas 66 e 67 tomando por base a edição da editora Vecchi). Dessa forma, compreendemos a importância e seu método de atuação, quando ao esmiuçar os vestígios ele nos revela não apenas sensibilidade de observação, mas principalmente profissionalismo à frente da clarividência ou teorização fundamentada no subjetivismo — Ken é bom no que faz! Ainda nos salta aos olhos uma de suas grandes qualidades como ser humano — a permanente conexão e respeito pela natureza.
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
E como grande sacada dessa descrição, ao mesmo tempo em que o scout desmistifica seu trabalho, o didatismo da narrativa nos distrai para o susto de uma emboscada. Afora contraposições como a da página 16 — “Eles são excelentes soldados porque fazem o que eu mando”, diz o Coronel ao soldado Price; para ao final demonstrar orgulho com a insurgência de Oliver ao ser condecorado na página 102, esqueça o filtro cor-de-rosa dessa soberba familiar, e absorva outra boa história escrita por Giancarlo Berardi, território literário em que a realidade não se furta de sobrepor efêmeras ilusões.
Uma curiosidade: é nessa edição que traz luz a um embrionário Martin Mystere, já que Giancarlo Alessandrini revela traços idênticos do lendário personagem da Bonelli na caracterização de Oliver Price. Ponto negativo: a edição da editora Vecchi contém péssima impressão, com constantes falhas na tipagem dos diálogos dentro dos balões.
Próximo episódio:
“O Magnífico Pistoleiro”
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Arte: Giancarlo Alessandrini |
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