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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Review — Ken Parker "O Caminho dos Gigantes" (Vecchi /Tendência). Argumento: Giancarlo Berardi / Roteiro: Tiziano Sclavi / — Desenhos: Giovanni Cianti e Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em Setembro de 1981/Editora Vecchi
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Arte: Giovanni Cianti |
Ainda em Milestone, cidade localizada no território de Saskatchewan, no Canadá Ocidental,
Ken Parker conhece Franz Magnus, um inseguro fisiculturista, e Harry Showe, seu partner. A dupla promove um espetáculo de encenação armado no intuito de captar recursos em lutas e embates arranjados. Quando um desses embustes surtem resultado adverso, sensibilizado com a ruína da dupla, o guia oferece U$S 100 para Franz e Harry o ajudá-lo a levar duas carroças de víveres e um pequeno rebanho até a localidade de Surprise, um pequeno povoado de mineiros comandado por Samuel Lytton. Durante o trajeto, Erna Shurer, uma imigrante alemã une-se ao grupo, numa jornada que terá uma série de contratempos e imprevistos.
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Arte: Giovanni Cianti |
A trama de
"O Caminho dos Gigantes" prossegue de onde paramos no episódio anterior, com
Ken Parker cumprindo o trabalho ao qual fora contratado pelo Crosby Castle Ranch. Franz Magnus e Harry Showe nos levam as agruras vividas pelos artistas mambembes e pelos imigrantes naquele período da história norte-americana. Se Franz sente-se desconfortável com a necessidade de interpretar um caricato imigrante alemão, esse ingrediente apenas amplia a necessidade do público médio em consumir estereótipos. E quando Harry faz questão de reforçar que seu parceiro possui alguma espécie de limitação intelectual. Apoiando-se no velho chavão imagético do homem musculoso sem cérebro, Berardi/Sclavi provocam o leitor a enxergar além do senso comum.
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Arte: Giovanni Cianti |
Na verdade, os roteiristas de Ken Parker quase sempre tentam mostrar a humanidade com suas dualidades, oscilando na tênue e invisível fronteira que separa o bem do mal, quando também somos relembrados que até mesmo os vilões muitas vezes possuem um lado humano e sensível. E essa é uma das grandes virtudes das histórias de
Ken Parker — quase sempre não temos uma visão maniqueísta dos fatos. Esse recurso dramático de destrinchar os aspectos psicológicos da mente dos criminosos seria ampliado nos anos seguintes em Julia Kendall, o maior sucesso comercial de Giancarlo Berardi.
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Arte: Giovanni Cianti |
Há uma leitura psicológica que nos revela a projeção de Harry em Franz e vice-versa, é como se os dois formassem um mostro de duas cabeças — cérebro e músculos. Já Erna Schurer, inicialmente refutada por
Ken Parker no início da jornada, aos poucos dá o ar da graça com sua força, inteligência e polivalência num ambiente hostil. Quando inicialmente requisita um lugar no grupo com destino a Surprise, a verdadeira 'surpresa' (para ela) é não receber uma declaração misógina sobre uma mulher atuando entre os homens. Ken lhe diz —
"Se a tivesse encontrado antes, talvez a contratasse. Tem bons braços e boas pernas, mas infelizmente já encontrei dois ajudantes, e não posso permitir uma pessoa a mais", como vemos na página 38 (tomando por base a edição da Editora Vecchi). Mesmo contraposta, solitária, Erna segue a cavalo acompanhando o trio a distância — e como vemos, ela se vira muito bem. O crescente flerte entre Erna e Franz, os imigrantes alemães, nos proporciona certa comicidade na timidez do fisiculturista e seu principal bordão no momento em que fica sem ação frente a premência do romance — "Vou dar de comer aos animais".
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Arte: Giovanni Cianti |
"O Caminho dos Gigantes" é desenhado a quatro mãos por Giovanni Cianti (primeiras 58 páginas) e Ivo Milazzo (últimas 36 páginas). É um episódio repleto de paisagismo gráfico e ausência de diálogos, à exemplo do que ocorre na sequência das páginas 32, 33 e 34, e também nas páginas 52 a 56.
Ken Parker, como desenhado no primeiro quadro da página 50 — é provavelmente a imagem mais próxima que o scout esteve de Robert Redford, ao qual sua persona física foi inspirada. Franz Magnus é totalmente espelhado em Arnold Schwarzenegger, assim como Erna Shurer nos lembra a atriz/cantora alemã Marlene Dietrich, que será novamente explorada adiante, só que pela pena de Giorgio Trevisan,
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Arte: Ivo Milazzo |
Ken Parker continua imerso na bolsa de livros que ganhou da jornalista Barbara Huntington Scott (episódio 33), e dessa vez a obra ao qual o novo leitor debulha à beira de uma fogueira é "O Fauno de Mármore" (1860) de Nathaniel Hawthorne. Escrito na véspera da Guerra Civil Americana, o romance mistura elementos de um conto pastoral, romance gótico e guia de viagens. "Cowboy's Dream", uma canção de Burl Ives, surge cantada por Ken em dois momentos (páginas 42 e 105). Ouça aqui a versão do grupo Bee Culture.
Próximo espisódio:
"Direito e Avesso".
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Arte: Giovanni Cianti |
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