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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de
Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no
Ken Parker Blog.
Review — Ken Parker "Homicídio em Washington (Vechi) /Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em fevereiro de 1979/Editora Vecchi
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Arte: Ivo Milazzo |
Passadas três edições, já temos uma noção de quem é o personagem e qual é sua verdadeira carta de intenções. Apesar de em dado momento Ken se autoproclamar um 'caçador de homens', pela necessidade da ocasião, isso é tudo o que menos ele é.
"Homicídio em Washgton" é uma edição de transição, é aqui que
Ken Parker começa a assumir as nuances que pautarão a sua trajetória. As gentilezas e trocas mútuas feitas com os índios nas duas primeiras edições se transformam em missão, já que Ken Parker é enviado a Washington como correspondente oficial de Fort Smith e principalmente como voz do povo indígena Dakota. Na capital estadunidense o scout encontra Ely Donehogawa, Comissário das questões indígenas.
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Arte: Ivo Milazzo |
A política e a sua imutável infâmia surge como pano de fundo, quando conhecemos os bastidores que deflagram os fatos que irão concitar contra os Dakota de Ohieda. Entre os algozes está o Senador Cox, parlamentar que orquestra sem os mínimos escrúpulos seu plano de extinção dos índios. O discurso do Ely no congresso explicita o racismo e o descaso do governo para com os índios. E ao contrário do Secretário de questões indígenas, vaiado e injuriado, ao proferir o seu discurso, o Senador é aplaudido. Vale lembrar que é Cox quem traz para a trama Donald Welsh, sicário que será responsável por vários dramas pessoais na vida de Ken. Pela primeira vez na série é usado o recurso de página dupla, com uma visão do Plenário do Congresso visualizado num padrão único em duas páginas. Detalhe: a arte de Milazzo o aproxima ainda mais da imagem de Robert Redford.
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Arte: Ivo Milazzo |
Ao depor no congresso, Ken proclama a frase — “se essa gente representa a América eu me envergonho de ser americano”. É como se Ken repetisse a voz dos excluídos pelo establishment norte-americano, é como se ele resumisse em apenas uma oração, por exemplo, o clamor dos oponentes a Guerra do Vietnã, uma chaga ainda exposta naquele Estados Unidos da segunda metade dos anos 1970, época em que
"Homicídio em Washigton" chegou ás bancas europeias. Outre recorte bacana está na dificuldade de Ken em vestir roupas sociais para transitar em Washington. Com sapatos apertando seus pés, o scout se livra deles, e ao final de sua fala atravessa o acesso ao Plenário com os calçados debaixo do braço. Esse episódio é uma referência histórica a uma importante reunião da ONU em 1960, quando Nikita Kruschev, então Secretário do Partido Comunista da antiga União Soviética, em sinal de protesto bateu com seus sapatos na mesa da organização.
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Arte: Ivo Milazzo |
“Homicídio em Washington” é uma história fundamentada no que compete aos temas de preconceito, da solidão, dos estereótipos, das simples e enganosas aparências. É impressionante como Berardi consegue envolver todos os principais personagens nesses erros de julgamento, seja como autor, seja como vítima, e às vezes em ambos os lados. Nada é como parece. Além da aparição de um dos grandes vilões da saga de
Ken Parker, aqui também é retratado o personagem histórico Ely Donehogawa, com uma licença artística/poética bastante generosa. Quem quiser saber mais sobre o tema leia “Enterrem meu coração na curva do rio”, livro lançado por Dee Brown em 1970, e disponível no país em recente edição da L&PM.
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Arte: Ivo Milazzo |
Em suma, roteiro primoroso, diálogos afiados e desenhos sensacionais, impossível não citar
"Homicídio em Washington" como um dos melhores momentos da saga de Ken Parker, edição que contém muitos dos ingredientes que o tornaram um gigante dos quadrinhos western. As fórmulas do personagem afloram, conhecemos o verdadeiro espírito de Ken, assim como somos solenemente apresentados a vilania do dissimulado Donald Welsh, um homem sem escrúpulos e dissimulado, digno dos grandes vilões.
Próximo espisódio:
Chemako
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Arte: Ivo Milazzo |
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Arte: Ivo Milazzo |
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