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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Review — Ken Parker "Chemako(Vechi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em março de 1979/Editora Vecchi
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Arte: Ivo Milazzo |
Peça para qualquer fã de Ken Parker montar uma lista de episódios favoritos? Sem dúvida
“Chemako” tem grandes chances de figurar na maioria dos rankings. O quinto episódio da série pode ser equiparado a obras do quilate de “Pequeno Grande Homem” (1970), o quase esquecido “Quando é preciso ser homem” (1970), o pupular no Brasil “Um Homem chamado cavalo” (1970) e o mundialmente conhecido “Dança Com Lobos” (1990), além de novas lembranças a “Enterrem meu coração na curva do rio”, livro de Dee Brown.
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Arte: Ivo Milazzo |
E essas impressões não se atém apenas a narrativa da história, mas, principalmente, em como os fatos são relatados. Seja na abordagem do tema e no arranjo dos protagonistas dentro do contexto, alternâncias de definidos lugares comuns do 'homem mau' e 'homem bom', além do posicionamento da “câmera em cada cena”. De todo o modo, assim como "Dança com Lobos" foi apontado por muitos como maniqueísta em relatar apenas 'um lado' da história, no caso a versão índia,
"Chemako" também não se furta de fincar sua bandeira no mesmo território. Ou você acredita na benevolência do homem branco?
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Arte: Ivo Milazzo |
A história começa do ponto em que um amnésico Ken Parker irrompe de meio à vegetação para salvar um jovem Hunkpapa de um urso enfurecido numa manhã gelada do Montana. Levado até a aldeia, o selvagem desmemoriado não lembra o próprio nome, mas é aceito na comunidade indígena e acaba sendo rebatizado como Chemako (aquele que não se lembra). Se retrocedermos no episódio anterior, mais propriamente na última página de "Homicídio em Washigton", percebemos que há um espaço vazio a ser preenchido pela imaginação antes de chegarmos ao princípio de
"Chemako".
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Arte: Ivo Milazzo |
Em outro take, conhecemos Belle McKeever, capturada pelos Hunkpapa à caminho de Fort Browning, no curso de sua visita surpresa ao seu marido, um Capitão Médico alocado no posto avançado de exército.
“Chemako” avança no relato dessas duas histórias — aprofundando a dualidade entre fuga e aceitação da vida de Belle entre os índios, como nova esposa de Ottawa, chefe da tribo, além da completa imersão na cultura Hunkpapa de Ken/Chemako, compartilhando a tenda com Tecumseh, seu filho Tebah e a sedutora cultura local.
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Arte: Ivo Milazzo |
Tratando-se da forma em que a HQ documenta a história em
“Chemako” — é nesse instante que Milazzo começa a experimentar novas formas de usar a pena/câmera. Já na página 28, no último quadro, quando Belle tenta fugir da aldeia, o seu pé vaza do quadrinho e acaba incindindo um sentido de maior profundidade à cena. O mesmo acontece no último quadro da página 33, agora com a cabeça do Ottawa e, na segunda tira da página 41, quando Belle ameaça atacar Ottawa. O artista elimina a moldura convencional e liberta as imagens para se movimentarem de forma mais fluida. Esse mesmo efeito é repetido na página 70, quando Tecumseh ao aceitar casar-se com Chemako, posiciona seu corpo e os braços em relação aos quatro pontos cardeais —
obs.: as citações de página levam em conta a edição da Editora Tendência.
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Arte: Ivo Milazzo |
A dramatização fabulária de Ken Parker voando num céu de estrelas prestes a recuperar a memória também merece menção, assim como a história do esquilo e gambá relatado a Theba nos leva até os livros infantis, alegorias que também serão reutilizadas em edições posteriores.
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Arte: Ivo Milazzo |
Voltando ao fio condutor da trama, Berardi nos poupa da dúvida e escancara o seu ponto de vista entre as páginas 58 a 65. Além do mais, a cena onde Belle/Kianceta assume ser mulher de Ottawa é digna de um Oscar dos quadrinhos. Entre perspectivas de paz, tratados que nunca são cumpridos, quebra de confiança entre os indígenas com o exército, além das aquarelas de Milazzo,
“Chemako” certamente é um dos episódios mais cinematográficas da série.
Os acontecimentos da edição #5 irão repercutir em toda a saga — passando pela longeva relação com Tebah e Belle, assim como a constante reflexão das questões ideológicas em relação ao povo indígena, pautas que frequentemente retornarão a epopeia kenparkerniana.
Uma curiosidade: em pleno debate no grupo do WhatsApp — Lu Vieira sugere semelhanças entre o personagem Luke Skywalker e Ken Parker. Esse espelhamento passa em algumas ações de ambos e também pela roupa de Ken, que ganhará contornos definitivos nos próximos episódios. Ken e a saga “Star Wars” ganharam o mundo de forma concomitante na segunda metade dos anos 1970, e essa sincronia temporal pode ter — mesmo que inconscientemente — influenciado Ivo Milazzo na composição do personagem. É correto dizer que "Star Wars" adere muitos elementos do western, como nos lembra Artur Ferreira. Já Lucas Pimenta sentencia — “Do jeito que Star Wars plagiou meio mundo, quem sabe George Lucas não tenha visto alguns esboços do Ken?!” (risos).
Falando em estrelas... Próximo espisódio:
Sangue nas Estrelas.
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Arte: Ivo Milazzo |
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