sexta-feira, 24 de julho de 2020

KP#7 Sob o céu do México

Arte: Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.


Review — Ken Parker "Sob o Céu do México” (Vechi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em maio de 1979/Editora Vecchi 

Arte: Ivo Milazzo
Cruzando por San Luis e MexicaIi, no Norte do México, Ken Parker está em plena caçada a seu arquirrival. É quando também conhecemos Ramón e Carmen, revolucionários do grupo "Mexico y Libertad" supostamente disfarçados de saltimbancos. Ramón é um gigante com mais de 2 metros de altura e força descomunal, mas com a mentalidade de uma criança. Já Carmen, símbolo de devoção do servil Ramón, acaba caindo nos braços de Ken. Paralelamente, eles se juntam na perseguição a Donald Welsh, busca que os levará até o General Huerta, guerrilheiro responsável por comandar um feudo local a custas de explorações aos camponeses. Entre seus planos de conquista, Huerta pretende depor o Presidente Benito Juárez e assumir o governo mexicano. Welsh, supostamente é seu aliado. “Sob o Céu do México” ainda marca o retorno de Dashiell Fox, importante partner de Ken.      

Arte: Ivo Milazzo
Historicamente situado no imaginário libertário dos proscritos, o México instalou-se como um dos principais refúgios dos facínoras e procurados pela justiça norte-americana, principalmente no imaginário do western. Mais adiante, pinço a lembrança de ainda mencionar o país como Éden dos expurgados pelo establishemnt do pós-segunda guerra, resgatando aqui a memória de William Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Keroauc, escritores beats que tinham o México como oásis de uma vida fora dos padrões.

Arte: Ivo Milazzo
A boa nova nesse sétimo capítulo é o retorno à pena de Ivo Milazzo. Após o breve hiato em "Sangue nas Estrelas" (desenhado por Giancarlo Alessandrini), o artista nos proporciona visões artísticas com detalhes de altíssimo nível. Tomando por base as edições anteriores — Milazzo ressurge com o traço mais rápido, menos acadêmico, pesando a mão no chiaroscuro (luz e sombra). “Sob o Céu do México” ainda apresenta o primeiro nu da série, deflagrado na aparição inicial de Carmem (ela é a cara da Ava Gardner) na cena do banho no riacho, quando Ken Parker acidentalmente esbarra com ela.   

Arte: Ivo Milazzo
O encontro com o ‘gringo’ nas páginas iniciais — sensacional homenagem a Snaky (Jack Elam), o bandido da mosca, de “Era uma vez o Oeste” (1969), de Sergio Leone, apresenta magníficos closes. O tiroteio no saloon de San Luis é de tirar o fôlego. Algumas cenas parecem ser construídas diretamente no pincel, sem esboço, a exemplo da representação da feira ao ar livre em Mexicali, onde Carmen surge com um megafone convocando os desafiantes de Ramón, representados no plano inferior do foco (repare ao fundo o homem a cavalo, materializado apenas como um simples rabisco).   

Arte: Ivo Milazzo
No epílogo, uma série de movimentações sensacionais nos levam ao desfecho parcial da história. O take do nevoeiro com os homens de Huerta navegando rumo ao veleiro parece ser construído meramente com um pincel seco, reproduzindo um efeito incrível. Quanto aos demais enquadramentos e soluções gráficas, destaque para o chute de Carmen em Donald Welsh — imagem que toma conta do centro da página 102 (tomando por base a paginação da Editora Vecchi). Outro recurso milazziano está simbolozado na apoteótica entrada nos soldados na fortaleza de Welsh, emoldurados unicamente pela fachada do pórtico do muro. E como não saltar da poltrona ao lermos/ouvirmos o rumoroso matraquear do ratátátá produzido pela metralhadora Gatling, lettering que forma a base da imagem no quadro seguinte. 

Arte: Ivo Milazzo
“Sob o Céu do México” nos oferece o espírito dos westerns da virada dos anos 1960/70, com direito a trama política, doses de humor, um leve toque de romance, além de ação em alta rotatividade. Assim como “Chemako”, novamente Berardi arremata um episódio com final em aberto, clássica fórmula cinematográfica daquele período. Esses epílogos permitem a inequívoca sensação de continuidade. Como qualquer um de nós, a vida de Ken Parker é repleta de ciclos... E nosso herói está prestes a encerrar um dos percursos mais importantes de sua trajetória.

Próximo episódio: Encontro em São Francisco/Grande Golpe em São Francisco  
Arte: Ivo Milazzo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A saga de Rifle Comprido contada pelo Blog

Ken Parker Blog retorna à atividade