sábado, 25 de julho de 2020

KP#9 Caçada no Mar


Arte_ Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.

Confira a trilha sonora de Ken Parker

Review — Ken Parker "Caçada no Mar” (Editora Vechi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Giancarlo Alessandrini. Publicada originalmente no Brasil em junho de 1979/Editora Vecchi 

Arte: Giancarlo Alessandrini
Depois de virada a 'página Donald Welsh', Ken e Dash se despedem logo no início de "Caçada no Mar"Será que novamente veremos Dashiell Fox nos episódios a seguir? O fato é que Ken Parker acaba por embarcar a contragosto no New England, um navio baleeiro com previsão de manter-se durante um ano distante de terra firme. No espaço de tempo em que se passa a trama de "Caçada no Mar", vale rememorar que as metrópoles utilizavam o óleo desse cetáceo para iluminar suas ruas, reforçando a importância dessa atividade para a iluminação pública das urbes do Século XIX (por mais que tenhamos certeza que as baleias não merecessem esse fim). Com isso, muitos desses gigantes da água salgada foram mortos e cozinhados no intuito de iluminar as capitais do mundo. 

Arte: Giancarlo Alessandrini
O New England é comandado pelo Capitão Owen Chase, e entre os embarcados está Nanuk, um esquimó/marinheiro que será fundamental na jornada inicial de nosso herói como 'Green Man' (como são chamados os marujos novatos) pelas frias águas do Pacífico Norte, e logo mais em sua luta pela sobrevivência no Círculo Ártico. E é justamente próximo ao estreito de Bering que o mais desafiador dos embates acontece, quando uma gigantesca baleia branca é avistada, impulsionando a nau até a iminência desse confronto, evento que será crucial para o destino da tripulação.

Arte: Giancarlo Alessandrini
A analogia com “Moby Dick” (1851), obra-prima de Herman Melville é quase instantânea, por mais que as histórias sejam completamente diferentes – afinal, qualquer trama que envolva uma baleia branca não terá facilidade de se desassociar dessa memória. É uma virada na epopeia kenparkerniana, e “Caçada no Mar” abre uma espécie de trilogia pelo Pacífico Norte (na sequência temos "Terras Brancas" e "Nação dos Homens"), com Ken descobrindo um novo partner, o genial Nanuk, que encontrará seu ponto alto no protagonismo do episódio seguinte. A fonte de inspiração do personagem está no filme “Nannok of the North” (1992), de Robert J. Flaherty, clássico do cine-documentário e um dos importantes filmes antropológicos feitos na primeira metade do Século XX. 

Arte: Giancarlo Alessandrini
“Caçada no Mar” marca o retorno à pena de Giancarlo Alessandrini, após rompido o gelo inicial de substituir pela primeria vez Ivo Milazzo em “Sangue nas Estrelas”, finalmente o desenhista arregaça as mangas e nos entrega um trabalho digno de figurar entre seus melhores momentos. As cenas náuticas, os céus estrelados em alto-mar, os pássaros marítimos, as nuvens entre rizes e velas, a imensidão de um mar P&B e principalmente à atividade de caça às baleias, formam um conjunto de aquarelas que cedem contornos extremamente singulares no traçado de seus rabiscos. Destaque para a ação da página (93) – tomando por base a edição da Editora Vecchi, instante em que em apenas dois quadros Alessandrini promove umas das narrativas visuais mais dramáticas do episódio. A sequência em que a tripulação se divide em botes para caçar a baleia branca é intercalada com cenas do abuso da esposa do Capitão pelo Contramestre Hardy, tensão ilustrativa que nos leva sem escalas até o clímax do enredo.   

Arte: Giancarlo Alessandrini
É também em “Caçada no Mar” que os primeiros traços políticos de uma perspectiva igualitária de sociedade surge na voz de Ken Parker na página 62, com visões de um socialismo não acadêmico. A temática será explorada mais profundamente em episódio posteriores, aprofundando questionamentos sobre os distintos valores da sociedade norte-americana. Vale lembrar que Ivo Millazo é reconhecido na Europa como um dos grandes ativistas e defensores dos direitos autorais artistísticos na Itália.

Uma curiosidade: “Caçada no Mar” também ganhou notoriedade por um erro de impressão ocorrido na edição da Editora Vecchi, mais propriamente na página 8, num diálogo entre Ken e Dash. A primeira edição foi publicada com página espelhada (tipagem invertida), O equívoco foi retificado na edição seguinte, com nova impressão do recorte, assim como nas futuras reedições.

Próxima edição: Terras Brancas

Arte: Giancarlo Alessandrini




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