KP#20 "Histórias de Armas e Trapaças"
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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Confira a trilha sonora de Ken Parker
Review — Ken Parker "Homens, Armas e Trapaças" (Vecchi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Giorgio Trevisan. Publicada originalmente no Brasil em Junho de 1980/Editora Vecchi
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Arte: Giorgio Trevisan |
A trama de "Histórias de Armas e Trapaças" começa em Forte Worth, Texas, maior depósito de armas do exército que abastece as tropas locadas no Sudeste do território norte-americano. Lá uma carga de armamentos é roubada numa operação onde um único projétil não foi disparado. Vindo do Forte Sill, encarregado pelo Coronel Jeff Whitaker de investigar o tráfico de armas entre os índios, Ken Parker chega ao posto avançado no exato dia do golpe. Assim, acompanhado por um militar do Forte, o scout sai em perseguição ao hábil impostor que partiu rumo a Jacksboro, cidade localizada no centro/sul texano.
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Arte: Giorgio Trevisan |
"História de Armas e Trapaças" ganha o protagonismo de Gordon, um bom ladrão, que não utiliza do artifício da violência para executar seus planos. Ele falsifica assinaturas, utiliza disfarces e enxertos no rosto, busca a galhardia e exibe bons modos para engambelar vítimas. Esse inteligente trapaceiro nos apresenta tantos nomes e aparências que mal sabemos qual é seu verdadeiro nome ou que sobrenome realmente assina. Gordon ganha até mesmo a simpatia de Ken Parker, que parece admirar seu intelecto e perspicácia.
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Arte: Giorgio Trevisan |
No encalço do ardiloso bandido, Ken e o Cabo chegam até Dallas. Lá, Gordon disfarça-se de Engenheiro de Saneamento da cidade, quando de imediato lembramos das artimanhas do impostor Henry Gondorff (Paul Newman) em "The Sting/ Golpe de Mestre" (1973), de George Roy Hill. Essa referência começa pelo artifício de Gordon em utilizar uma sala vazia dentro de um prédio da prefeitura para enganar suas vítimas. Gondorff fez algo semelhante em "Golpe de Mestre", quando, no intuito de iludir o figurão Doyle Lonnegan (Robert Shaw), monta uma falsa casa de apostas. Gordon e Gondorff tem algo mais em comum — charme, uma palavra que descreve o DNA e o protagonismo de ambos.
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Arte: Giorgio Trevisan |
Curiosidades: o homem contratado para guiar uma carroça e assim despistar a fuga dos criminosos canta a todos pulmões uma canção berardiana — "Tell me, Sister! Tell, me Brother! Has you heard the latest news?". Na verdade, não se trata de uma música, mas sim o trecho de um poema do poeta/ativista texano Lansgton Hughes. Em Jacksboro, na intenção de descobrir o local onde as armas roubadas estão armazenas, Ken utiliza o nome falso de Jedediah Baker, impresso num cartaz falso de procurado pela justiça, num papel dobrado em seu bolso. Assim, ao ser abordado por delinequentes suspeitos, ganha o respeito do bando. Ao criar o personagem, inspirado em “Jeremiah Johnson” (1972), longa de Sidney Pollack, o nome "Ken Parker" foi uma segunda opção de Giancarlo Berardi, que o batizou inicialmente de Jedediah Baker, para logo depois alterá-lo para o nome ao qual o conheceríamos, uma sugestão de seu editor, Sérgio Bonelli. Além disso, Brett, o ex-parceiro e perseguidor de Gordon, é claramente inspirado no ator polonês Klaus Kinski (Fitzcarraldo), pai da atriz Nastassja Kinski (Paris, Texas/A Marca da Pantera).
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Arte: Giorgio Trevisan |
Outro detalhe em “Histórias de Armas e Trapaças” é que Giancarlo Berardi novamente explora temáticas pouco usuais no western — como homossexualidade e bissexualidade. No original italiano, o Barão hospedado no Dallas Grand Hotel tem a íngua presa, o que o torna caricato, e excessivamente estereotipado. Já na versão brasileira da Editora Vecchi, o romance entre o hóspede e o recepcionista do hotel é exibido de uma forma mais sutil, numa quebra de protocolo que oferece um novo olhar sobre a concepção original.
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Arte: Giorgio Trevisan |
"Histórias de Armas e Trapaças" marca ainda uma nova incursão de Giorgio Trevisan pelas páginas de Ken Parker, com destaque para a dramatização da corrida de cavalos — entre paginas 45 e 48 — além das divertidas gags visuais entre as páginas 84 e 87 — quando Trevisan interpreta o roteiro de Berardi utilizando sutis conotações sexuais e um humor autêntico.
Próximo episódio: "O Julgamento de Deus"
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Arte: Giorgio Trevisan |
A saga de Rifle Comprido contada pelo Blog
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