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Arte: Ivo Milazzo |
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.
Confira a trilha sonora de Ken Parker
Review — Ken Parker "O Julgamento de Deus" (Vecchi/Tendência). Roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Bruno Marraffa. Publicada originalmente no Brasil em Julho de 1980/Editora Vecchi
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Arte: Bruno Marraffa |
Lawtown, no Okhahoma, povoado que nasceu à sombra de Forte Sill. Consternado após romper o namoro com Joyce Larkin, filha de um Capitão de Forte Sill, contrário a união do casal, o soldado Lyman Ames, acompanhado do cabo Halliday, afoga as mágoas no Bullhead Saloon. Após muitos excessos, os dois apagam e resolvem dormir num celeiro nas imediações do bar. Pela manhã, a jovem Joyce Larkin é encontrada morta próximo ao Bullhead. Evidências indicam Lyman como principal suspeito da morte da garota. Preso pelo xerife, a população quer fazer justiça com as próprias mãos.
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Arte: Bruno Marraffa |
Prestes a ser enforcado, uma patrulha do exército evita o pior, após Halliday fugir e relatar o ocorrido ao seu comandante. Assim, Ken Parker, scout do Forte, é convocado pelo Coronel Jeff Whitaker a levar Lyman Ames até um a corte marcial em Forte Richardson, no Texas. Acompanhado do Cabo Holliday, durante o percurso da escolta Ken ainda encontrará Bruce Catton, um pistoleiro de aluguel contratado pelo pai da garota morta.
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Arte: Bruno Marraffa |
No comando da pena, após já ter nos apresentado sua técnica em outros três episódios, Bruno Marraffa está inspirado. O artista gráfico utiliza recursos narrativos que facilitam a interpretação da trama. Em algumas imagens, antes de pensarmos em óculos 3D como objeto de imersão e movimento no cinema, o desenhista nos provoca a pular da cadeira com as cenas de briga, quando objetos arremessados parecem saltar para fora da página. Incríveis dinamismos, inusitadas sobreposições, invasões de quadro, rostos que beiram a perfeição devido ao detalhismo, ausência de moldura, alinhamentos desproporcionais, pés e braços voadores, efeitos recordativos incomuns, entre outros recursos, fazem de "O Julgamento de Deus" um dos maiores triunfos de Bruno Marraffa como desenhista de Ken Parker. Um dos aspectos negativos da intervenção de Marrafa está na composição de Ken, aparentemente distante da personalidade imposta por Ivo Milazzo. Muitas vezes o personagem parece se distanciar da imagem de Rifle Comprido, como se fosse outra pessoa, com uma nova personalidade e reações.
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Arte: Bruno Marraffa |
Em recordatório, a história de "O Julgamento de Deus" ainda nos traz a lembrança "Rashamon" (1950), filme do cineasta japonês Akira Kurosawa. Estrelado por Toshirō Mifune, o longa apresenta uma estrutura narrativa não convencional que sugere a impossibilidade de obter a verdade absoluta sobre um evento, principalmente quando há conflitos de pontos de vista. "Rashomon" se tornou um provérbio para qualquer situação na qual a veracidade de um evento é difícil de ser verificada devido a julgamentos conflitantes de diferentes testemunhas. Na psicologia, o filme emprestou seu nome ao chamado "Efeito Rashomon". "O Julgamento de Deus" pode ser catalogado dentro desse provérbio, já que várias interpretações, e a própria ausência de lembranças do principal suspeito, assim como os possíveis desdobramentos de outros envolvidos nos levem a abrir inúmeras janelas e conclusões precipitadas.
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Arte: Bruno Marraffa |
Ainda na esteira do cinema, "Hang 'Em High/Marca da Força" (1968), de Ted Post, protagonizado por Clint Eastwood, evoca a citação e lembrança da corda ne corda no pescoço de Bruce Catton. Pela primeira vez auxiliado por Maurizio Mantero, Giancarlo Berardi utiliza um fórmula que seria comum em Julia Kendall, anos antes da Criminóloga surgir nas bancas italianas — a investigação de um assassinato. Entre os rostos inspirados pelo cinema, Capitão Larkin é a cara do Robert Shaw em "Golpe de Mestre" (1972) e Claire Townsend evoca de imediato à lembraça de Katherine Ross, a Etha de "Butch Cassidy" (1969).
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Arte: Bruno Marraffa |
Ganância, preconceito, erros de julgamento, afeição pelo infrator, compaixão, amores mal resolvidos, justiça a qualquer preço e a exposição sem filtros da limperfeição humana, fazem de "Julgamento de Deus" um capítulo interessantíssimo da jornada de Ken Parker à serviço de Forte Sill.
Próximo episódio: "Incêndio em Chatanooga".
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Arte: Bruno Marraffa |
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Arte: Bruno Marraffa |
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