terça-feira, 25 de agosto de 2020

KP#31 As Colinas Sagradas

Arte: Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog.

Review — Ken Parker "As Colinas Sagradas" (Vecchi /Tendência). Argumento: Giancarlo Berardi / Roteiro: Maurizio Mantero — Desenhos: Bruno Marraffa. Publicada originalmente no Brasil em Maio de 1981/Editora Vecchi
Arte: Bruno Marraffa
O emblemático tratado de 1868 entre o governo norte-americano e os Sioux determinava que metade do território do South Dakota pertenceria ad aeternum para os índios — “Nenhuma pessoa ou pessoas brancas poderão colonizar ou ocupar qualquer porção do território ou, sem o consentimento dos índios”, dizia em letras graúdas o pacto assinado pelo Pai Grande de Washington e rabiscado pelo Chefe Nuvem Vermelha. Do Rio Missouri seção oeste, até a fronteira com Wyoming, Nebraska e North Dakota. Um importante detalhe: no interior da Reserva, próximo à fronteira ocidental, encontravam-se as Black Hills, assim chamadas pelos pioneiros pela cor escura de suas extensas florestas. Os Sioux as consideravam como centro espiritual do seu mundo — Paha Sapa — a morada dos Deuses, lugar onde aconteciam rituais sagrados. 

Arte: Bruno Marraffa
Quatro anos depois do acordo, alguns garimpeiros encontraram ouro nas Black Hills. Quando os índios se depararam com os invasores, ou os expulsaram ou os mataram. Por volta de 1874 houve certo clamor nacional pela exploração das montanhas, com o exército enviando até lá dezenas de patrulhas de reconhecimento, obviamente sem o consentimento dos legítimos proprietários do território. Historicamente os tratados entre exército e os índios foram caindo, sempre com apenas um dos lados não cumprindo as promessas. No caso das Black Hills, estamos falando de um dos mais emblemáticos episódios da história indigenistas dos Estados Unidos. 

Arte: Bruno Marraffa
A trama de “As Colinas Sagradas” ocorre em 1876, apenas oito anos após a assinatura do acordo. Ao salvar uma diligência de um ataque dos índios, Ken Parker conhece Anne Lomax, uma jovem de Chicago a caminho da cidadezinha de Sundance, no Wyoming, onde encontrará seu tio, Hank Lomax. A região está em plena febre da corrida do ouro, pois a insurgência ao tratado é incentivada inclusive pelo próprio sistema financeiro da cidade — além do banco local fornecer empréstimos aos garimpeiros para facilitar a exploração nas colinas. E mais, McDowell, um empresário de Sundance, entrega armas de fogo para os Crow, na intenção de tumultuar o convívio entre brancos e índios. Travestidos de Sioux, as milícias dos Crow tem a intenção de provocar uma intervenção do exército e legitimar a exploração da região.  
Arte: Bruno Marraffa
A vilania ganha massa corpórea na figura do inescrupuloso McDowell, grande articulador da farsa ao qual tenciona destituir os índios de seu território, e assim ocupar e dilapidar as Black Hills. Assim, a custo de muitas vidas, uma verdadeira guerra se inicia. O episódio ainda demarca a primeira aparição de Touro Sentado, um dos mais importantes nomes da história indigenista da segunda metade do Século XIX, e nome a ser examinado com inequívocas minúcias em episódios seguintes. O envolvimento romântico de Ken com Anne Lomax, o leva a ajudá-la na procura pelo tio, concomitante a sua imersão no centro dos acontecimentos e a consequente elucidação dos fatos. 

Arte: Bruno Marraffa
O velho estribilho do extermínio orquestrado das nações indígenas é o refrão continuamente evocado em “As Colinas Sagradas”. Figurões a construir farsas ideológicas e a manipulação da massa de manobra como estopim para explodir uma guerra. Um excelente exemplo da cultura de expansão propagada pela doutrina do "Destino Manifesto", filosofia que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo, sendo o expansionismo geopolítico norte-americano apenas uma expressão desta vontade divina. Há uma percepção de que nos roteiros de Maurizio Mantero Ken Parker careça de certa leveza, numa dilatação de sua personalidade explosiva. Certamente temos a representação de um Ken menos sutil ou reflexivo. Uma curiosidade: a capa de “As Colinas Sagradas” é claramente inspirada na pintura "Caminhante sobre o mar de névoa", do paisagista alemão Caspar David Friedrich, um dos importantes representantes do romantismo europeu daquele período. 

A guerra pelas Black Hills está prestes a conhecer o seu ápice, e outra figura história irá ressurgir no próximo episódio  em "A Lenda do General".  
Arte: Bruno Marraffa

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