quinta-feira, 12 de novembro de 2020

KP #54 Boston

Arte: Ivo Milazzo
A reunião virtual de fãs de Ken Parker, fumetti/HQ italiano que é item de devoção do Diário Kenparkerniano, grupo formado no WhatsApp que se organizou com a intenção de cronologicamente reler e debater todos os episódios da epopeia western, também é relatado aqui no Ken Parker Blog

Confira a trilha sonora de Ken Parker

— Ken Parker "Boston" (Best News/Tendência). Argumento/roteiro: Giancarlo Berardi — Desenhos: Ivo Milazzo. Publicada originalmente no Brasil em Janeiro de 1990/Editora Best News

Arte: Ivo Milazzo
Com intenção de embarcar rumo a Boston, onde reencontrará o filho e sua tutora, Ken Parker chega a estação ferroviária de Omaha, no Nebraska. Contudo, infelizmente Ken não consegue comprar seu bilhete, pois o Transcontinental Express da Union Pacific, que ainda passa por Chicago e Cleveland, é um comboio particular em que os tíquetes precisam ser adquiridos comprados antecipadamente, com passagem caríssima (U$S 50 por dia). Resultado: Ken Parker embarca sorrateiramente como clandestino, ao melhor estilo Jack London — é o que descobrimos no terceiro quadro da página 22 (tomando por base a edição da Editora Best News). 

Arte: Ivo Milazzo
"Boston" marca o reencontro com dois dos personagens mais marcantes da vida de Ken Parker — seu filho adotivo com Tecumseh, Theba (rebatizado de Theodore 'Teddy' Parker), e a amiga Belle McKeever (leia o review de Chemako). Antes de desembarcar na estação em Boston, o que ocorre somente na página 67, Giancarlo Berardi traz um interessante lote de referências numa trama de investigação. São eles: Philo Vance, um personagem fictício que apareceu em doze romances policiais escritos por S. S. Van Dine, publicados nas décadas de 1920 e 1930.  Ellery Queen é um dos heterónimos coletivos criado em 1929 pelos primos Frederic Dannay e Manfred B. Lee, dois prolíficos escritores norte-americanos de romances policiais. É também, ao mesmo tempo, um personagem fictício dos romances produzidos pelos mesmo autores. C. Auguste Dupin, fictício detetive criado por Edgar Allan Poe, e considerado o primeiro detetive da ficção. Sherlock Holmes, provavelmente o mais famoso e, portanto, aquele que não precisaria ser formalmente apresentado — mas vamos lá — estamos falando de um personagem da literatura britânica criado pelo Sir Arthur Conan Doyle, o investigador do final do século XIX e início do século XX, que se tornou o mais lendário dos detetives/investigadores da literatura mundial. E por último, Hercule Poirot, protagonista da maioria dos livros de Agatha Christie, e não menos lendário detetive da ficção policial.

Arte: Ivo Milazzo
Afora escritores e personagens, outras obras são relidas, citadas ou influem sua inspiração no roteirista, livros como "Assassinato no Orient Express", de Agatha Christie; "O Caso da Canária Assassinada", de S.S. Van Dine; e "Os Assassinatos da Rua Morgue", de E.A. Poe. E ainda temos a participação de Buster Keaton como maquinista, um dos maiores gênios cômicos do cinema mudo, representado na figura do jovem aprendiz que leva a composição férrea até Boston — e lá ainda estão Basil Rawthorne, Albert Finney e Robert Ryan. Relembramos por aqui um breve trecho do prefácio de Gianni Di Pietro, em "Terra de Heróis" — "Entre Ken Parker e o cinema [e ampliaríamos para a literatura], existe uma relação bastante estreita", num contínuo jogo de citações que se estende ao longo da saga, mas encontra o mais profícuo dos interlaces em "Boston".

Arte: Ivo Milazzo
O humor também é constantemente evocado na trama, a exemplo da inovadora sequência do personagem que empurra um balão (páginas 30 e 31), um recurso que hoje, de certa forma, é até banalizado nas HQs, mas em 1983 não deixava de oferecer certa inovação ao gênero. É também em "Boston" que Alec Browne surge na vida de Ken Parker, inicialmente como o homem que oferta um emprego ao ex-scout, contratado como investigador na Agência National. Afora o drama, o mistério e os acontecimentos a bordo do Transcontinental Express, tragicomédia que toma a maior parte da HQ, numa divertida vênia à literatura e ao cinema, o epicentro emocional da história é deflagrado no reencontro com Theba/Teddy, principalmente quando o garoto reclama a ausência do pai e clama por sua presença — "Eu ficava esperando no Natal, na Páscoa... E nada! Na escola, Belle tinha que falar que o endereço do meu pai era desconhecido! Tá certo que você sempre mandou dinheiro, mas eu pouco estou ligando para isso e para os seus presentes", fala. Ken pede o perdão do filho. Lágrimas escorrem pelo rosto de Teddy, eles se abraçam e um novo recomeço está deflagrado.  A cena de pai e filho rumando juntos para a escola (com Ken Parker vestindo a conhecida roupa de couro das primeiras histórias) impressiona os colegas de Teddy, um menino orgulhoso de seu pai, que propicia aos bostonianos uma autêntica visão do homem do Oeste. É também em "Boston" que conhecemos Paul, o novo namorado de Belle. A postura de sua amiga, a Kianceta de "Chemako" (nome hunkpapa de Belle), de não querer se casar outra vez, de não buscar os padrões determinados pela sociedade, seu destemor em manter-se uma mulher solitária e única responsável pela criação de duas crianças com sangue índio nas veias, são fatos que demonstram seu ímpeto feminista e transgressor.  

Arte: Ivo Milazzo
Ao final, o assassinato no Transcontinental Express e o sumiço das joias tem seu desfecho no Safari Park de Boston, com o retorno de alguns personagens que conhecemos no trem, além de uma inaudita citação a King Kong. O último quadro com Ken, Teddy e Belle de mãos dadas nos vende a impressão de um final feliz se aproximando no horizonte da jornada de nosso herói... Quem viver verá...

Próximo episódio: "Assalto à Luz do Dia/Assalto na Reginald Street"

Arte: Ivo Milazzo

Arte: Ivo Milazzo

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